Não existe mais vida sem smartphone. Inclusive, há grandes chances de você estar com o seu nas mãos enquanto lê esta Vogue. Com o celular ganhamos, entre outras coisas, praticidade, agilidade e até visibilidade. Mas também problemas de saúde.
Um deles está se transformando em epidemia mundial, a chamada Text (ou Tech) Neck Syndrome: são dores na região cervical e de cabeça, provocadas pela inclinação excessiva do pescoço ao digitarmos ou lermos textos na tela – principalmente do celular, mas também de laptops e tablets.
Se ficarmos nessa má postura por pouco tempo, ok, já que o corpo tem seus mecanismos de ajuste. O problema é que passamos períodos cada vez mais longos com o queixo em direção ao peito – às vezes, quase encostado. Segundo estimativa feita nos Estados Unidos, entre duas e quatro horas por dia. No Brasil, um dos países campeões no acesso às mídias sociais, o quadro não é diferente.
Um estudo publicado na revista científica Surgical Technology Internationalmensurou o impacto da gravidade no peso da cabeça. De acordo com o autor da pesquisa, Kenneth Hansraj, cirurgião especializado em coluna vertebral e diretor da clínica Spine Surgery and Rehabilitation Medicine, em Nova York, a cabeça adulta pesa de 4,5 a 5,5 quilos – peso que é naturalmente distribuído ao longo da coluna vertebral, quando estamos na posição normal. Ao flexionarmos o pescoço para a frente, porém, ela fica mais “pesada”: em um ângulo de 15°, seu peso passa a equivaler a 12 quilos; a 30°, a 18 quilos; a 45°, a 22 kg; e a 60°, a impressionantes 27 kg.
“Quando inclinamos o pescoço, há uma sobrecarga nos músculos e tendões da cervical. Quanto maior a inclinação, maior a sobrecarga”, confirma Luiz Fernando Bertolucci, médico fisiatra especializado em rolfing (técnica de integração estrutural), de São Paulo.
Mais que tensionar os músculos, a inclinação exagerada comprime os nervos e pode causar um tipo de cefaleia que costuma ser confundida com enxaqueca, a neuralgia occipital, provocada pela inflamação dos nervos que partem da base do pescoço em direção ao crânio.
“Pacientes cada vez mais jovens se queixam de dores na região cervical – a incidência do problema aumentou nos últimos dez anos, período que coincide com a popularização dos smartphones”, diz José Luiz Fernandes, fisioterapeuta especializado em RPG.
Fonte: Revista Vogue – Janeiro, 2018.